terça-feira, 25 de setembro de 2012

Parte: 02 Resumos Das Falas Da 1ª Mesa Redonda


AS ATIVIDADES ECONÔMICAS DA COMPANHIA DE JESUS NA AMAZÔNIA COLONIAL PORTUGUESA

Raimundo Moreira das Neves Neto (doutorando PPHIST/UFPA)

Durante a época moderna, a Companhia de Jesus sempre teve em mente a ideia de que ela não poderia se tornar dependente das verbas do padroado régio para financiar as suas missões, como a Missão do Maranhão e Grão Pará. Assim, ela não tardou a conquistar um vasto patrimônio fundiário por diversas vias, tais quais: compras diretas, trocas, arrematações e pedidos de sesmarias. De tal feita, suas fazendas geravam um considerável lucro a partir de atividades de criação de animais, cultivo de diversos gêneros (café, cana de açúcar etc.), expedições às drogas do sertão (cravo, cacau, salsa etc.) e produção de canoas. A produção e comércio de tais gêneros ainda eram favorecidos por um conjunto de benefícios que o monarca português concedia aos padres, como a isenção de impostos alfandegários de tudo o que eles comercializassem. Por outro turno, para além dos benefícios reais, a própria Companhia de Jesus não se furtava a agraciar com cartas de irmandade aos colonos de certa proeminência financeira, o que é significativo quando percebemos que esses mesmos moradores legavam as suas propriedades aos colégios jesuíticos.

A gerência dos rendimentos das propriedades jesuíticas não representava matéria embaraçosa aos padres, pois a administração/contabilidade inaciana contava com um alto grau de aperfeiçoamento, fazendo frente até mesmo a administração da fazenda real. Nesse sentido, merece destaque as figuras dos padres reitores e procuradores. Ambos trabalhavam intensamente na conquista/maximização de bens e na resolução de pleitos que envolviam o patrimônio material jesuítico. Pedidos de sesmarias às autoridades, recebimento de doações por parte de devotos, solicitação de côngrua (ou aumento da mesma), compra de terras, representação às diversas instâncias quando de litígios que envolvessem uma dada propriedade ou um dado privilégio e, é claro, a administração das fazendas: eis alguns trabalhos que, no Estado Maranhão e Grão Pará, eram exercidos por reitores e procuradores.  Toda essa estrutura administrativa era centralizada na figura dos colégios inacianos.

Sabidamente, somente os colégios e casas de formação da Companhia de Jesus possuíam bens próprios (como fazendas e imóveis urbanos) dos quais se sustentavam. Tal especificidade dos colégios e casas de formação em deter o patrimônio material da Ordem foi uma determinação do próprio Santo Inácio de Loyola, fundador da Companhia, a partir das Constituições Jesuíticas, com o intuito de manter a pobreza dos religiosos. Em outras palavras, quem possuía os bens materiais da Ordem não eram os padres, mas sim os colégios jesuíticos. Como podemos perceber, o colégio jesuítico não tinha uma função meramente educacional, mas, sobretudo, de centro gerenciador de todo o patrimônio material da Ordem, pois todas as fazendas e demais propriedades que a Companhia de Jesus conquistasse estavam atreladas a ele. Singular, nesse sentido, é a própria arquitetura de tais prédios.

As construções jesuíticas seguiam o mesmo estilo aplicado na ereção de conventos e mosteiros – disposição em quadra ou retângulo – de modo a formar um ou mais pátios interiores. O pátio teria como objetivo o descanso/reflexão dos religiosos, daí eles serem rodeados de galerias que permitiam a sombra. Os pátios jesuíticos, todavia, não possuíam galerias, e faziam fronteira diretamente com os muros da construção (igreja ou colégio), permitindo uma maior iluminação solar. Tal especificidade do pátio jesuítico estava intimamente ligada à sua função dentro do colégio: circulação ou meio termo entre reclusão e a vida ativa da Companhia. Nesse sentido, junto ao pátio do Colégio de Santo Alexandre (Belém do Pará), eram erigidas construções menores para recolher os muitos gêneros que vinham das missões do interior do Pará, como as drogas do sertão. O pátio do colégio, portanto, servia de armazém para tais produtos que eram enviados para outras partes da América Portuguesa, como o Estado do Brasil, e até mesmo para o Reino. 

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